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Sobre a doença do desejo

Sobre a Necessidade do Desejo

Nossa vida segue como uma corrente de um rio  na direção muitas vezes incontrolável  para satisfação de nossos desejos, até quando dormimos gozamos e muitas vezes somos atormentados, trazendo a mente a problemática da insatisfação em não poder ter aquilo que se deseja, somos escravos desse desejo, não escolhemos conscientemente o objeto que desejamos, não escolhemos quem amamos, nos matamos, roubamos, traímos, pecamos, nos colocamos em inúmeras situações problemáticas que nos fazem ir de um simples ato cotidiano a uma violência mortal, o suicida deseja parar de sentir a dor que lhe atormenta, o sádico deseja a dor do  outro, o narcisista deseja a cima de tudo ele próprio,  gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça todos esses, são cumplices de nossos desejos. O filosofo Aristóteles no ano de 322, já citava que: 

´´ Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá opor-se a um outro desejo“. o desejo é algo, não é mensurado, é fora do nosso controle, e que nem sempre o que se deseja é aquilo que é agradável, que nos traz felicidade.

E o por quê de nos mortais, inteligentes construtores de navios, prédios, futuros viajantes planetários, somos tão fracos diante de algo que está tão próximo, que aparenta estar  totalmente ao nosso controle, por quê criamos tantos problemas para buscar a satisfação desses desejos,  Freud em seus textos tenta nos ajudar a mitigar esse desconhecimento, já elaborava em 1919 que o menino tem constituído o desejo de ter um filho com a mãe, e a menina em ter um filho de seu pai, no entanto a impossibilidade de ter êxito nessas relações incestuosas, pode fugir a fatalidade da repressão, sucumbem a anseios externos (Freud, 1919).  A lei do mundo externo nos obriga a reprimir o nosso desejo por tal objeto proibido, mas a libido apenas encontra outro caminho a seguir, ou seja, desejar um outro objeto. Será o objeto de nosso desejo, o objeto real, o insubstituível, a peça faltante de nossa completude, ou apenas vivemos na falta de um objeto jamais encontrado, e gozamos com objetos metonímicos, uma metáfora desse objeto; Para Lacan objeto que direcionamos nossa pulsão é sempre um objeto reencontrado, este objeto que corresponde a um estágio avançado de maturação dos instintos, o objeto que foi inicialmente o ponto de ligação das primeiras satisfações.

´´Que de toda maneira para o homem, de encontrar o objeto é e não passa disso, a continuação de uma tendência, onde se trata de um objeto perdido, de um objeto a se reencontrar. (Apud Freud, 1905.)“

Desse modo podemos exprimir que o objeto procurado por nossos desejos, não é o objeto real, e sim uma imagem, produzida pelo princípio da realidade, de nosso imaginário, e suas cadeias de significantes, de nossas fantasias, das repressões, e das múltiplas defesas que nossa psique é dotada. E qual é o papel do psicólogo nessa dramaturgia de nossa psique? No que toca a sua relação com o médico, o doente deve conservar bastantes desejos não realizados, é apropriado recusar-lhe justamente as satisfações que ele deseja de modo intenso e sobre as quais se manifesta do modo mais premente (Freud, 1919).

O desejo e o objeto está presente em todas ás nossas atividades pulsionais, o que é desejado está além da mulher amada, este amor que vive pura e simplesmente ordem do deslocamento, e que leva ao mais alto grau de apego do sujeito a seu aniquilamento, o desejo se situa na fantasia, e a fantasia nos faz ver de maneira ampliada a nossa relação com esse objeto metonímico, por não haver possibilidade de alcançar o objeto que inaugurou o nosso desejo, pelo simples motivo de que o nosso primeiro encontro com o desejo é com o desejo do outro, olhar desejam-te da mãe, seremos seres sempre faltantes, em busca de um objeto que não sabemos o que é, que não o vemos e não o compreendemos, apenas temos para nós a sensação de uma falta, de um sentimento a espera de ser nomeado significado, descoberto, a busca de reencontrar essa peça faltante, não nos difere em nada da chuva em que sempre acabará indo de encontro ao chão,  porem o desenvolvimento subjetivo de sua história, pode ser influenciador para mudar a direção desse encontro e a qualidade dele, e para a construção de seus próprios significantes da falta desse algo que sempre buscamos é item fundamental entender o jogo psíquico, descobrir as cartas que estão na mão do nosso inconsciente, e reconhecermos a nossa fraqueza e compreender que muitas vezes podemos ter tudo e sentirmos que não temos nada, e saiba caro leitor nessa falta, nessa infelicidade que nos abate sem motivos, nessa busca constante por melhoramentos, por desenvolvimento constante, você não está sozinho, o único caminho possível para a inexistência da falta é a morte, choramos ao nascer desejando o ar em nossos pulmões, e ao nosso leito de morte desejaremos com ainda mais intensidade esse mesmo ar, o desejo do começo permanece mesmo no fim. 

Autor: Psicólogo Henrique, em 20/03/2021

Textos: Crônicas do Desejo.