O amor é um sentimento primitivo e irresistível, com o temperamento de uma criança mimada, corajosa, travessa e incompreensível, na mitologia grega Eros o Deus do amor era o causador de caos, suas flechas causava um efeito irresistível, em humanos, semideuses e deuses ninguém era pareô para tal poder, tanto era os prazeres possíveis, os sabores, o belo, os desafios, esse efeito tornava a todos enlouquecidos, nada se compara ao viver o amor, é maravilhoso, e para o amor poder se tornar realidade muitas vezes nos submetemos ao desprazer, nos machucamos, nos colocamos em posições de submissão, agredimos, buscamos a riqueza, o conhecimento, tantos são os movimentos do tabuleiro do amor que as tramas possíveis e as tragédias envolvidas são tão inúmeras que estão em todo lugar, música, filmes, livros, fofoca, noticias, e o por que algo tão especial e importante se torna a problemática na vida de muitos, e por muitas vezes nos coloca em loop pulando constantemente de um relacionamento a outro sempre encontrando o amor mas também a dor e o sofrimento. Dentro da minha experiência clínica com casais, os que chegam são aqueles que ainda há muito amor, mas a relação é percebida como algo, caótico ou frigido, seja por complicações cotidianas naturais da vida humana como demandas de trabalho, conflitos de projetos, incompatibilidade familiar ou esfriamento sexual, até aqui posso dizer que em grande parte das casais felizes tem como plano de fundo algo bem parecido com o casal em sofrimento, mas se o plano de fundo é tão parecido o que difere ? o porquê de tantas histórias de amor disfuncionais, aqui coloco a minha conclusão do principal fator causador dessa infelicidade: ” há sua forma de amar é a protagonista do seu sofrimento”, amor é sentimento, a forma de amar é cognitivo que influencia o nosso comportamento, esse comportamento causa o desastre, então colocamos no banco dos réus o que é visível, o ato e a ação, e não a causa, e assim entramos de cabeça em um ciclo de relacionamentos frustrados que mesmo cumprindo o papel de satisfazer nossos desejos, traz o sofrimento, a angustia e o desespero, e essa esquemática acontece porque o sentimento mais próximo de quem ama é a falta, e em algum momento entendemos que há inexistência de um amor resulta em um ser incompleto, que pouco amor é a possibilidade real de aniquilação e extinção daquilo que somos, e o medo desses sentimentos, do fim trágico é que nos faz muitas vezes exagerar ou a negligenciar a intensidade na forma de praticar o amor. Amar intensamente é querer tomar o outro para si, consumi-lo até que não sobre nada para perder. Amor de menos é não nos permitir sentir ou não querer viver aquilo que é do outro, nos protegermos do sentimento da possível perca do outro, uma proteção a todo custo, mesmo que o custo seja uma perca real, se pudéssemos mensurar e medir em números:
Os casais felizes saudáveis e duradouros que encontro dentro da experiência clínica é o que se mantem na intensidade entre 7 a 8, abaixo disso o frio começa a incomodar, nos traz o arrepio da solidão e o sentimento de estar só, quanto mais abaixo, a distância aumenta, nos tornamos inacessíveis, as cores se tornam cada vez mais cinzas e resultado disso é um relacionamento onde falta sexualidade, o contato se torna mecânico, a falta do outro já não me incomoda, o receio de perca é inexistente, e o final é muitas vezes o termino de algo que se quer começou, um amor triste, inexpressível, esses términos costumam serem menos expressivos, menos caótico e mais adaptativos.
O amor é como um sol vital porque ele aquece, ilumina e cria, porem em demasiado é deletério porque secara a lavoura, quando esse amor é tão intenso que perturba as paredes de nossa organização psíquica a sua expressão é o ciúmes descontrolado, a necessidade de controle, o sentimento de inexistência na ausência do outro, o final clássico é o desmoronamento desse amor que logo se transforma em sua antítese, morre o amor e nasce o ódio e com ele a repulsa, aversão e assim um relacionamento que sobra amor tem o seu fim trágico justamente pela minha forma de amar, e muitas vezes esse fim chega para um enquanto para outro, que começa a perceber que aquela paixão e aquele calor não existe mais e em seu lugar está o frio sufocante, a resposta defensiva é quase sempre parar de viver e começar a sobreviver, morre a violência e entra a necessidade de salvamento, para o movimento caótico e entra a inanição e é nesse momento que muitas vezes continuar o caminho fica muito difícil, nos entregamos a depressão, há uma rachadura em nosso peito, e para quem já passou por isso sabe que essa rachadura é tão real quanto o chão que caímos, o mundo se torna preto e branco, e o processo de cura até permitirmos as cores do mundo nos tocar novamente é lento, penoso, afinal para aquele que se mantem inacessível longe do sol a única angustia possível é a percepção de não sentir, e essa por um tempo se torna até suportável, não sentir nada é menos penoso que sentir a falta, mas não sentir é não viver, e aquele que não está vivo está morto, e quando conseguimos perceber a nossa quase morte se cria a necessidade natural de buscar a vida, respiramos novamente. E então caro leitor venho aqui colocar você a refletir qual é o seu modo de amar, se amor fosse uma criança como seria essa criança? mimada, ressentida, competitiva, possessiva, essa criança buscaria sempre simulando uma despedida deixando a porta sempre aberta ansiando que sua metade corra atrás? Ou aquela criança que visando a atenção do outro tem como método se tornar o mais inacessível possível demandando que o outro fique sempre a se contorcer para satisfazer essa necessidade de atenção.
Independente da sua forma de amar sempre é possível construir uma relação saudável, criando um ambiente que aquece nos momentos de frio, e que tenha uma fundação solida que suporte o calor excessivo, lembre-se que amar é um sentimento poderoso, mas o modo de amar é um processo cognitivo aprendido a partir de nossa história e experiências, e sim podemos ressignifcar, aprender a desacelerar, se tornar mais compassivo ao outro, e no momento certo, com a pessoa certa, podemos sim sair do ciclo vicioso do amor trágico e construir uma relação que consiga lidar e satisfazer com os desejos de nossa criança interna, e se permitir viver um amor livre, forte e verdadeiro.
Texto: Crônicas do Desejo ainda em revisão qualquer erro avise Obrigado.
Autor: Psicólogo Henrique Oliveira